30 de
Agosto de 2016 por Eduardo Guimarães
Apesar das negativas dos golpistas de
que estão fazendo o que todos veem, a quantidade de pessoas, instituições e até
de nações que enxergam que está ocorrendo um golpe de Estado no Brasil
desqualifica as tentativas vis, imorais, inaceitáveis de tratar esses
questionamentos com desdém.
As multidões que tomaram as ruas e a
internet para protestar contra a derrubada da presidente chegam a dezenas de
milhares, as figuras públicas que manifestaram repúdio ao processo farsesco mal
chamado de “impeachment” são prêmios Nobel, intelectuais, artistas, chefes de
governo, líderes religiosos e tantos e tão importantes cidadãos “comuns”, os
órgãos de imprensa que opinam que esse processo é viciado são veículos como o
francês Le Monde, o inglês The Guardian, o norte-americano The New York Times,
o alemão Deutche Welle…
Não dá, portanto, para tratar a
oposição ao impeachment como os golpistas e fascistas tratam, como se fosse uma
invenção maluca de um pequeno contingente de ignorantes.
Dito isso, vale atentar para as
palavras iniciais de Dilma em seu julgamento no Senado. Ela disse que
entre seus defeitos não está a deslealdade e a covardia. Que não trai os
compromissos que assume, os princípios que defende ou os que lutam ao seu lado.
E que na luta contra a ditadura recebeu no seu corpo as marcas da tortura, que
amargou por anos o sofrimento da prisão e que viu companheiros e companheiras
sendo violentados, e até assassinados.
Dilma lembrou que à época da ditadura
era muito jovem e que tinha muito a esperar da vida. Por isso, tinha medo da
morte, das sequelas da tortura no seu corpo e na sua alma, mas não cedeu.
Resistiu. Resistiu à tempestade de terror que começava a engoli-la, na
escuridão dos tempos amargos em que o país vivia. Dilma lembra que não mudou de
lado apesar de receber o peso da injustiça nos seus ombros, e que continuou lutando
pela democracia.
Diante de tanta injustiça, a
presidente desabafou:
“Não esperem de mim o silêncio dos
covardes. No passado, com as armas, e hoje com a retórica jurídica, pretendem
acabar com o estado de direito (…). Não luto pelo meu mandato por vaidade ou
por apego ao poder, luto pela democracia, pela verdade e a justiça”.
Apesar de um discurso tão forte e
edificante, Dilma não lida com pessoas que se deixarão convencer pela verdade e
pela justiça; seus julgadores, em maioria, são movidos pela ambição, por
interesses menores e se valem do logro, do cinismo, da fraude, da farsa para
alcançar seus objetivos inconfessáveis, de forma que se fingem de tolos para
encenarem esse espetáculo farsesco.
Foi o caso da senadora pelo partido da
ditadura militar Ana Amélia, do PP (Arena) do Rio Grande do Sul, que ousou
esgrimir com o argumento torpe de que simplesmente por Dilma estar se
submetendo ao julgamento do Senado ela estaria convalidando o processo contra
si.
Dilma
teve que explicar mais de uma vez que a atual composição do Senado Federal só
deixará de ser respeitável se consumar o golpe contra si e, como a Casa ainda
não o fez, continua merecendo seu respeito e o de todos, pois ainda tem chance
de não cometer o crime de lesa-pátria que será cassar o seu mandato.
A situação será outra, segundo Dilma,
se o Senado aprovar o golpe.
Desde o seu discurso inicial, passando
pelas respostas a cada senador que a inqueriu, Dilma foi didática. Ela teve que
desenhar para uma senadora de um partido golpista pela própria natureza como é
que pessoas como essa atacam a democracia.
Dilma deu uma aula de democracia
àquela horda de bárbaros que não tem noção do que faz – ou têm noção, mas pouco
se importa com o futuro do país contanto que receba cargos e proventos oriundos
da derrubada de um governo legítimo e amparado por 54 milhões de votos.
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