O atual ministro-chefe da Casa Civil,
Onyx Lorenzoni, sempre contou com um grupo muito fiel de apoiadores financeiros
em suas campanhas eleitorais. A indústria de armas, que sempre teve no então
deputado gaúcho um defensor abnegado, chega junto desde 2006, ano em que
Lorenzoni se elegeu para a Câmara dos Deputados. De lá até 2014, último pleito
em que foi permitida a doação de empresas a candidatos, o porquinho do
parlamentar foi recheado com mais de meio milhão de reais da indústria
armamentista
Junto ao Congresso, Onyx Lorenzoni é hoje, por ideologia e por
dever de ofício, o principal articulador da flexibilização do uso de armas de
fogo no Brasil, personificada na medida provisória que o presidente da
República está doido para aprovar, ainda esta semana. Trata-se da mais
barulhenta promessa de campanha do então candidato Jair Bolsonaro que a
transformou em gesto-símbolo: dedos indicador e polegar em riste, mãozinha em
forma de arma. Armar os "cidadãos de bem" foi o mote central do
discurso. Até mesmo depois que o candidato foi vítima de um atentado, mas de arma
branca.
Lorenzoni é apenas um exemplo, pinçado até pela posição
estratégica que exerce no governo, em relação à consolidação da ideia. A
"bancada da bala" tem vários outros representantes e afilhados no
governo e na base de apoio do bolsonarismo. Até porque bolsonarismo e
armamentismo soam a muitos como almas gêmeas, e univitelinas.
E já que é um exemplo, vamos lá. Segundo dados da Agência Lupa,
o atual ministro recebeu, em 2006, doação de R$ 110 mil da Taurus, maior indústria de armas do
País. Contribuição que se repetiu em 2008 (candidatura derrotada a prefeito de
Porto Alegre, RS) e saltou para R$ 150 mil em 2010, quando
a Associação Nacional da Indústria de Armas e Munições entrou também com R$ 100 mil. Em 2008, vale citar, a Companhia Brasileira de Cartuchos doou R$ 150 mil a
Lorenzoni. E em 2014, lá estava a Taurus com outros R$ 50 mil.
Se a decisão de Bolsonaro conseguir sair do papel nesta semana,
como se espera, a indústria de armas vai ter muito o que comemorar. Os
parlamentares bancados por esse segmento econômico, também.
O Estatuto do Desarmamento (Lei 10826) está em vigor desde o dia
23 de dezembro de 2003, quando foi sancionado pelo então presidente Lula. Em
2005, por 63,94% a 36,06%, os brasileiros reprovaram o artigo 35 que tratava da
proibição da venda de armas em todo o País. É proibido o porte de armas por
civis, exceto àquelas profissões nas quais haja necessidade comprovada. É nessa
regra que se pretende mexer, ampliando os casos onde o uso de armas fique
liberado.
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Quando ocupa a tribuna e brada pela liberação das armas, o
parlamentar está fazendo nada mais que o jogo do seu financiador. E devolve a
deferência com perspectivas de grandes lucros. Nada é de graça. Só por causa da
expectativa de vitória de Bolsonaro, no final do primeiro turno da eleição do
ano passado, as ações da Taurus deram um "pipoco" de 400%, no
ano. Empossado o novo presidente e na iminência do decreto ampliando a posse de
armas, essas ações já tiveram alta de 89%.
A Forja Taurus é a maior fabricante de armas com atuação no
País. Outras estrangeiras já vislumbram aportar em terras tupiniquins e contam
com a torcida ruidosa (e poderosa) dos Bolsonaro (Glock, CZ e Sig Sauer).
Não há qualquer respaldo científico ou histórico na defesa
tresloucada do uso de armas. Pelo contrário, os contraditórios estão aí,
fartos. O
Japão baniu
as armas e é o país mais seguro do mundo, com taxa de homicídios de 0,3 por
100 mil habitantes. No outro extremo, Honduras é considerado o país mais violento do
planeta, com 82 homicídios para cada 100 mil habitantes
(2012). Isto com armas liberadas e vidas ceifadas por menos de 1 real, que é o
preço da bala por lá.
Nada disso interessa, nem a financiadores nem a financiados
nesse jogo mortal de liberar as armas ao máximo. Vale matar mais e mais.
Consequentemente, comprar cada vez mais a quem está, cada dia mais, pronto e
ávido para vender.
Pelas regras da MP de Bolsonaro, ficam à vontade para ter arma
dentro de casa 2/3 dos brasileiros. Quem garante que a defesa do patrimônio e a
autodefesa diante dos bandidos, argumentos cantilênicos dos armamentistas, não
vão ser superados pela defesa da própria honra? No Brasil cada dia mais machista e
arrogante que emergiu das trevas nos últimos anos, a briga de rua e o
"você sabe com quem está falando?" terão na arma, legalizada, um
aliado forte, cruel e irrefutável.
E aí tem um dado mais preocupante ainda. O Brasil, segundo a ONU, é o quinto país do mundo
em feminicídios, homicídios motivados contra mulheres, por serem as vítimas
mulheres. São 4.762 casos para cada 100 mil, o equivalente à perto de 13 mortes por dia! Crimes
de homens, não raro machistas, arrogantes e donos da verdade.
Com
a flexibilização da posse e uso de armas, o que você acha que vai acontecer?
Essa
taxa aumenta ou diminui?
Quer
quantos segundos para pensar e responder?
Fonte: Brasil
247 por
Gilvandro Filho Jornalista pela Democracia
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