NOME QUE BOLSONARO DIZ TER USADO EM EXAME DE COVID-19 É DE FILHO DE RESPONSÁVEL PELA COLETA
![]() |
O presidente Jair Bolsonaro com máscara da
Polícia Militar na frente do Palácio da Alvorada Foto: Dida Sampaio/Estadão 15 de maio de 2020
Mãe de jovem de 16 anos é
tenente-coronel da Aeronáutica, de acordo com Ministério da Defesa; exames do
presidente foram divulgados por determinação do STF após o ‘Estadão’ pedir na
Justiça para ter acesso aos laudos
BRASÍLIA
– O presidente Jair Bolsonaro utilizou
como codinome em um exame para detecção do coronavírus o nome do filho de uma
das responsáveis pela coleta do material utilizado na análise, uma farmacêutica
que trabalha no Hospital das Forças Armadas (HFA). A informação foi revelada
pelo jornal Correio Braziliense e confirmada ao Estadão pelo
Ministério da Defesa.
Em
um dos exames, o nome utilizado é o do jovem R. A. A. C. F., de 16 anos. De
acordo com o Ministério da Defesa, a mãe de R.A., que é tenente-coronel da
Aeronáutica, coordenava a coleta das amostras para o exame de covid-19 do
presidente e de seus assessores. Estava também sob a coordenação dela o envio
do material para o laboratório Sabin, responsável pelo exame.
O exame foi por coleta de material da nasofaringe, feita no dia 17
de março.
O Estadão está
preservando os nomes dos envolvidos por se tratar de um menor. Segundo a
Defesa, o nome do filho foi o que “ocorreu” à tenente-coronel no momento da
coleta, quando foi pedida a utilização de um codinome. “Em consonância com a
equipe médica da presidência, e no intuito de proteger e garantir
confidencialidade aos exames do presidente da República, foi sugerida a
utilização de um pseudônimo, sendo o nome que lhe ocorreu, naquele momento”,
afirmou a pasta, em nota.
Os exames do presidente Jair Bolsonaro foram divulgados na quarta-feira por
determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) após o Estadão pedir
na Justiça para ter acesso aos laudos. O Palácio do Planalto não explicou a
decisão de Bolsonaro de utilizar o nome de uma pessoa real. O presidente disse
que utiliza há mais de dez anos codinomes em situações como a manipulação de
remédios em farmácias.
Além de trabalhar no HFA, a tenente-coronel é
sócia, com o marido, de uma farmácia de manipulação em Brasília (DF). Em foto
nas redes sociais, ela colocou os dizeres “Brasil acima de tudo, Deus acima de
todos”, slogan utilizado por Bolsonaro.
Ainda
na quarta-feira, o Estadão falou, por telefone, com o pai de
R.A, marido da tenente-coronel. Na ocasião, ele disse que não sabia o motivo de
o presidente ter usado o nome de seu filho. “Não tenho (nenhuma teoria sobre
o motivo). Você podia perguntar pra ele (Bolsonaro) me fala depois”,
disse.
O pai, que também é farmacêutico, se negou a
responder se o jovem R.A. havia feito exame para covid-19. “Não vou dar esse
tipo de informação, meu filho é menor”, afirmou. Ele disse que não conhecia
Bolsonaro, mas não quis responder se era apoiador do presidente.
A reportagem ligou para a mãe nesta sexta-feira.
Ela desligou o telefone depois da identificação da repórter e não respondeu às
mensagens enviadas.
Codinome
Questionado
pela reportagem, o laboratório Sabin disse que não utiliza
codinomes nos cadastros realizados em suas unidades. “Os casos referidos foram
identificados e colhidos pelo HFA. Coube ao Sabin apenas o processamento dos
exames preservando todas as informações encaminhadas pelo hospital, que é
responsável pela identificação”, informou, em nota.
Já o Ministério da Defesa afirmou que “o uso de
pseudônimos em exames de saúde de pessoas públicas, visando proteger a
privacidade, é comum e não representa irregularidade”, e disse que isso está de
acordo com a Sociedade Brasileira de Patologia Clínica / Medicina
Laboratorial.
Exame
Depois de o Estadão pedir na Justiça acesso aos
exames do presidente, a Advocacia-Geral da União (AGU) entregou ao Supremo
Tribunal Federal (STF) três exames com resultado negativo feitos pelo
presidente. Dois exames, feitos pelo laboratório Sabin, foram registrados com o
CPF, RG e data de nascimento de Bolsonaro, mas sob codinomes. O terceiro exame,
feito pela Fiocruz, identifica o nome da pessoa apenas como “Paciente 05”. Não
há indicação de documentos pessoais nem da data de nascimento do paciente.
Fonte: Lorenna Rodrigues e
Rafael Moraes Moura, O Estado de S.Paulo
|
Comentários